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Text Practice Mode

Crônica: A Última Digitadora da Galáxia

created Friday June 27, 20:02 by DAVI SAMUEL VALUKAS LOPES


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Ano 3047.
 
Em uma era dominada por inteligência artificial, comandos de voz e implantes neurais, ninguém mais usava os dedos para escrever. Ninguém... exceto ela.
 
Seu nome era Lía-9, uma cidadã do Setor Vênus Alfa. Era considerada uma excentricidade viva: enquanto todos se comunicavam por pensamento digital, Lía-9 insistia em usar... um teclado.
Seu terminal era uma relíquia, um artefato antigo que ela havia encontrado nos destroços de uma nave terrestre da Era Analógica. O aparelho, resgatado e restaurado com carinho, emitia um som macio a cada toque: clac, clac, clac. Para Lía-9, aquele som era como música ancestral.
 
“Existe algo mágico em construir palavras letra por letra”, dizia ela.
 
As crianças do setor vinham assistir àquele espetáculo raro. Nunca tinham visto alguém “digitar”. Ficavam hipnotizadas vendo os dedos de Lía-9 dançarem sobre o teclado como se fossem programados por poesia.
 
“Mas por que não pensa e envia o texto direto com o cérebro, tia?”, perguntava um garotinho curioso.
 
“Porque pensar é rápido demais. Escrever devagar nos obriga a sentir cada palavra”, respondia com um sorriso.
 
Havia boatos de que a escrita manual ajudava os humanos a sonhar mais. Lía-9 acreditava nisso. Suas histórias, digitadas letra por letra, escapavam do visor da tela e ganhavam vida nas mentes de quem lia.
 
Até que um dia, um curioso cientista do Conselho Galáctico veio visitá-la.
 
“Estamos estudando como o toque físico com a linguagem pode reativar áreas emocionais adormecidas do cérebro. O que você faz... pode ser a chave da empatia interplanetária.”
 
E assim, sem saber, Lía-9 tornou-se símbolo de uma revolução. A última digitadora virou a primeira mentora da Nova Era Tátil. Reabriram-se escolas, agora com teclados, e seres de todo o sistema solar queriam aprender a digitar.
 
Na parede da sala de aula cósmica, uma frase brilhava:
 
“Enquanto houver dedos que dançam sobre teclas, haverá histórias que pulsam com alma.”
 
E Lía-9? Ela apenas continuava digitando. Uma letra por vez. Um mundo por parágrafo.
 

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